Era uma vez uma menina super bacana chamada Cinderela. Bonita, 20 poucos anos, ganhava a vida honestamente faxinando casa de família. Dormia no emprego. Menina simples. Jeans e camiseta.
Trabalhava duro e cumpria todas as tarefas do seu longo dia, ainda que, de vez em quando, tomasse umas paradas muito doidas e entrasse numa de conversar com os animais da varanda...
- E aí, bicho?! - dizia para o passarinho achando a maior graça no próprio trocadilho. - Tá tirando onda nos vocais hoje, hein?
- Pô, Cindi...esses farelos novos que os ratinhos arrumaram tão fazendo maravilhas pela minha arte.
Um dia, um amigo bichinha-assessor-de-imprensa ligou convidando para uma festa numa casa que, segundo ele, era um verdadeiro palácio. Como toda duranga, aceitou a boca livre sem pestanejar. Ligou para sua madrinha que era costureira no Projac e encomendou um figurino de núcleo rico da novela das oito. Fez a chapinha e foi.
Chegando lá, em meio a canapés e fluts gratuitas, tropeçou num mauricinho que a chamou para dançar. Dançaram. E carência seja dita, deu uns beijos no rapaz. Estavam no meio de uns amassos num canto remoto dos jardins quando ele começou com um papo brabo de que estava apaixonado e queria se casar.
Cindi, que já era rodada, rapidamente percebeu a deixa, deu um perdido no malandro e saiu a la leão da montanha. Esticou o braço e chamou um táxi, o melhor amigo da mulher solteira.
A caminho de casa, no entanto, percebeu que tinha perdido o celular.
- Merda...sequelei... paciência – pensou.
No dia seguinte, de ressaca, enquanto limpava os vidros da janela da sala pelo lado de fora, ouviu um comentários entre as filhas inúteis da sua patroa:
- ligou um cara perguntando se alguém aqui em casa perdeu o celular...
Cinderela, sempre de botuca ligada, pensou:
- Que sorte o taxisita deve ter achado!
As barangas continuaram o papo:
- O meu não perdi – resmungou uma das irmãs.
- Nem o meu. E eu já ia dizendo isso quando, por sorte, eu perguntei quem tava falando.
- Quem era? – respondeu a outra bocejando
- O Roberto Valentino!
- Quem?
- Aquele da novela das 7!
- Quem?
- Que faz o assistente da vilã!
- Mentira! E aí?
- Eu disse que tinha perdido, claro! Ele disse que vinha aqui trazer para mim, que eu tinha saído correndo, que a noite tinha sido incrível mas que tinha acabado cedo demais.
Cinderela quase caiu do nono andar.
- Puta, que mala, o cara vai entrar numa comigo...
Não deu duas horas o interfone tocou e Cinderela atendeu. Era a criatura:
- Sem grilo. Vou fumar um cigarro na área, o menino vai ver que se enganou e vai-se embora – pensou.
Foi, mas como tinha a audição bem treinada para ouvir as fofocas da sala de estar, acabou ouvindo a conversa. Dizia ele:
- Você foi no banheiro e sumiu. Seu celular ficou em cima da mesa.
- Ah...eu precisei pegar uma carona, não te achei mais.
- Engraçado, você é tão diferente do que eu lembrava...
- È que eu acabei de acordar, to toda desarrumada...
- Mais gordinha... – disse ele, deixando escapar o que devia ser só um pensamento.
- É que preto emagrece – respondeu a mocréia, enfurecida.
- Claro – respondeu o menino, se desculpando sem graça – eu também não devo estar parecendo nenhum príncipe.
- Mas foi divertido, não foi? A gente podia marcar um repeteco. – sugeriu a moça toda se querendo.
- Claro! Vamos marcar. Eu te ligo.
E antes que a irmã feia pudesse responder, o menino já tinha picado a mula se prometendo, de uma vez por todas, entrar para os alcoólicos anônimos.
Cinderela respirou aliviada:
- Ai, esse meu chame só me arruma encrenca...
Deu um último trago no cigarro, jogou a guimba pela janela e foi até a sala:
- Ô D. Celina, esse telefone aqui é tem dono? Tava precisando de um celular novo...
4 comentários:
Hahahahahaha!!!
Maravilhoso, Joaninha!
Nada como uma Cinderela contemporânea. Perfeita para o Comando Rosa.
Acho que vc tem de passar a ser uma Comandante. A Trompa de Elite precisa de tu!
Beijos
Excelente!!!!
Adorei!!!!
Muito familiar mesmo...
bjs
Dona Baratinha,
Sinceramente, com essa auto-estima bem dotada e essa escrita inteligente, voce deveria pensar em escrever no Falo Explícito.
Se quisesse destilar o mau humor faria um ótimo dueto com o meu amigo Aureliano.
Obrigada pela história, Baratinha!
O comando agradece!
Beijo grande!
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