quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Você fim de semana

Sabe...você?
Todo dia você é arrancado do estado mais profundo de imersão por uma aparelho de tortura chamado despertador.
Todo dia, você é obrigado a passar um terço de sua vida gerando dinheiro para sabe-se-deus-quem em troca de teto, casaco e vinho tinto.
Todo dia você dorme pouco e, na maioria das vezes, pensando no que fez ontem ou no que vai fazer amanhã.
Todo dia você acorda querendo morrer.
Querendo acabar com aquilo tudo.
E ficar ali. Fodam-se.
Nunca leva adiante.
Quando chega no carro, o humor já melhorou e as intenções são as melhores.
Liga o rádio, sai da garagem e, antes da primeira esquina, leva uma fechada. É alguém, certamente, muito puto de ter que largar sua família para passar o dia exercendo a burrice num escritório qualquer.
A velocidade da vida acontecendo, o mau humor do trânsito, a histeria da informação que precisa ser ouvida, o barulho, as solicitações, os sustos, tudo isso nos agride diariamente. E faz com que nós, para sobreviver, desenvolvamos uma carapaça inquebrável em torno do corpo.
Essa carapaça é um escudo que nos protege da lida do dia-a-dia.
O que significa que as pessoas que somos, no dia-a-dia, são infinitamente menos sensíveis do que somos na realidade.
Os seres carrancudos, que passam pelo trocador de ônibus sem dar bom dia, provavelmente, são só somente seres se defendendo da agressão de saírem de suas casas sem verem seu filhos.
Os mal educados que imbicam seus carros nos cruzamentos, são seres magoados se vingando da obrigação de ter um horário a cumprir.
A vida não é fácil para ninguém.
Mas você, aquele você rabugento que é grosseiro sem querer, é fruto de uma série de agressões diárias e, em certa medida, inevitáveis. Mas não é você. Você é legal.
Você é uma pessoa engraçada, numa sexta feira a noite, depois de alguns chopes.
Você é uma pessoa inteligente, depois de uma sessão de cinema.
Você é uma pessoa amorosa na manhã de domingo com seus filhos.
Você é fim de semana.
Toda vez que você quiser ser

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